11 de fevereiro de 2014

100% dos ônibus voltam a circular em Porto Alegre nessa terça-feira

 

Rodoviários continuam em estado de greve, mas recolocam frota nas ruas.
Categoria aguarda votação do dissídio coletivo no próximo dia 17.

Do G1 RS
De acordo com a EPTC, 100% da frota dos ônibus urbanos circulam nesta terça-feira (Foto: Gabriel Guidotti/Divulgação Carris)De acordo com a EPTC, 100% da frota dos ônibus urbanos circulam nesta terça-feira (Foto: Gabriel Guidotti/Divulgação Carris)
Os ônibus urbanos voltaram a circular em Porto Alegre nesta terça-feira (11), após 15 dias de paralisação total dos rodoviários. Em assembleia na noite de segunda-feira (10) a categoria recusou a última oferta das empresas de ônibus, mas se comprometeu a retornar ao trabalho com 100% da frota nas ruas. Apesar da volta dos coletivos, os funcionários continuam em estado de greve até a definição do valor do dissídio coletivo, que está marcado para ocorrer no próximo dia 17.
De acordo com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), 100% da frota da capital já está nas ruas nesta terça. Nenhuma garagem registrou problemas e os coletivos saem normalmente. No Consórcio Carris, um dos pontos de maior concentração de rodoviários durante a greve, os veículos deixaram o local com normalidade. Às 7h40, 299 ônibus da companhia já transitavam pelas avenidas da cidade.
Ainda segundo a EPTC, as lotações, utilizadas durante a greve com o valor reduzido de R$ 4, voltam a cobrar o preço original da tarifa, que é R$ 4,20. Os veículos também estão proibidos de levar passageiros em pé, como ocorreu durante os dias de paralisação dos ônibus. Vans escolares estão autorizadas a transportar apenas estudantes.
A decisão de recolocar as frotas na rua ocorreu após uma assembleia tensa no Ginásio Tesourinha, na noite de segunda-feira. Por uma margem apertada, os rodoviários decidiram não aceitar a última oferta das empresas de ônibus, apresentada durante uma reunião de mediação nesta manhã no Tribunal Regional do Trabalho (TRT). O sindicato patronal ofereceu 7,5% de reajuste salarial e fim do banco de horas a partir de agosto, entre outros itens.
Com isso, os rodoviários manterão o estado de greve enquanto esperam que o TRT defina o valor do dissídio coletivo, em julgamento marcado para o dia 17. Com a volta da circulação dos ônibus, a categoria também vai pedir na Justiça a retirada do caráter ilegal da paralisação. A solicitação deve ocorrer nesta terça-feira (11).
Após paralisação de 15 dias, ônibus voltam a circular em Porto Alegre (Foto: Luiza Carneiro/ G1)Após paralisação de 15 dias, ônibus voltam a
circular em Porto Alegre (Foto: Luiza Carneiro/ G1)
“Negar o acordo e judicializar o dissídio vai compensar. Agora melhoram as expectativas, porque há possibilidade de novos avanços baseados em leis federais, como a participação nos lucros. Tínhamos menos de 70 itens de reivindicações e agora temos 117. Abriu um leque de possibilidades”, comentou Alceu Weber, um dos líderes do comando de greve.
O presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) Luis Mario Magalhães recebeu a rejeição com frustação e perplexidade. Segundo ele, com a rejeição do acordo pela categoria, as empresas de coletivos urbanos ultrapassaram os limites que tinham se proposto para resolver a greve, e as negociações estão zeradas.
A assembleia
Desde o final da tarde, rodoviários já se encontravam nas imediações do Ginásio Tesourinha para a assembleia que decidiria o futuro da greve. A entrada no ginásio só foi autorizada mediante identificação dos trabalhadores, e longas filas se formaram no portão principal. Em frente ao ginásio, houve concentração de sindicalistas de outras categorias e movimentos sociais simpáticos à paralisação dos rodoviários.

Marcada para as 19h30, a assembleia só começou com mais de uma 1h de atraso, mas logo foi interrompida por uma falta de luz no Ginásio Tesourinha no momento em que Weber defendia a aceitação do acordo definido no TRT. Cerca de 20 minutos depois, Weber retomou o discurso e alertou que foi um erro entrar na ilegalidade e que seria um risco judicializar o dissídio. Nas arquibancadas, gritos de ordem defenderam a continuidade da paralisação. "Não tem história, é greve até a vitória", bradavam parte dos rodoviários.
Assembleia Rodoviários Porto Alegre (Foto: Estêvão Pires/G1)Rodoviários dão as costas para discurso da
direção do sindicato (Foto: Estêvão Pires/G1)
Enquanto isso, grevistas ligados à direção do Sindicato dos Rodoviários convocavam o público a votar pelo fim da paralisação. Quando um dos dirigentes da entidade discursou, no entanto, parte dos grevistas ficou de costas. Já a participação do rodoviário da Carris e sindicalista Maximiliano da Rocha, que pregou o não ao acordo, foi ovacionada pelos rodoviários contrários ao fim da greve. "Prefiro morrer lutando do que morrer ajoelhado", discursou. 

Terminados os discursos, a primeira votação foi pela aceitação ou não da propostas do sindicato patronal. A primeira contagem foi apertada e obrigou a convocação de uma segunda consulta, na qual os rodoviários foram divididos em dois lados do ginásio: os que eram favoráveis ao acordo ficaram de um lado e os que eram contrários, do outro. Após um momento de discussão e ânimos acirrados, venceu o não. 

Com isso, uma segunda votação ocorreu para definir se a categoria voltaria ao trabalho ainda em estado de greve. Desta vez, houve unanimidade no retorno de 100% da frota a partir desta terça-feira. Além de projetarem mais avanços nas reivindicações, os rodoviários acreditam que a retomada total dos serviços podem ajudar na compensação dos dias parados. "Para nós foi bom, porque o trabalhador escolheu assim", definiu o presidente do sindicato, Júlio Gamaliel.


Relembre a cronologia da greve
- 14 de janeiro
Em assembleia realizada no Ginásio Tesourinha, o Sindicato dos Rodoviários decide entrar em estado de greve. A categoria pediu reajuste salarial de 14%, aumento de R$ 4 no vale-alimentação e manutenção do subsídio do plano de saúde. O Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa) ofereceu 5,56% de rejuste, a reposição da inflação.
- 15 e 16 de janeiro
Após declarar estado de greve, os rodoviários realizam "operações-tartaruga" nos principais corredores de ônibus da região central da cidade. Os veículos circulam com velocidade entre 30 km/h e 40km/h, provocando congestionamentos.
- 23 de janeiro
Em nova assembleia, os rodoviários votam pela greve. O início da paralisação é marcado para a segunda-feira seguinte, dia 27. Na sexta-feira (24), a categoria realiza uma nova operação-tartaruga e comunica o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) sobre a paralisação.
- 27 de janeiro
A greve começa com 436 ônibus dos 1.453 que circulam diariamente nas ruas da capital, o equivalente a 30% da frota. A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) autoriza as lotações a transportar passageiros em pé. A Metroplan chega a anunciar a permissão para os ônibus metropolitanos pegarem passageiros dentro de Porto Alegre, mas muda de ideia antes da medida entrar em vigor. A prefeitura pede na Justiça o aumento da frota.
- 28 de janeiro
O prefeito José Fortunati diz que a greve é "combinada" entre rodoviários e empresários, mas os dois lados rebatem. A desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse, vice-presidente do TRT da 4ª Região, atende parcialmente o pedido da prefeitura e determina a circulação de 70% da frota nos horários de pico (das 5h30 às 8h30 e das 17h às 20h) e 30% nos demais horários, além de fixar multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
- 28 de janeiro
A primeira reunião de mediação entre rodoviários e sindicato patronal termina sem acordo no TRT. Após uma rápida deliberação com a categoria em frente ao prédio do TRT, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Julio Gamaliel Pires, anuncia a retirada de 100% da frota de circulação. "Se 30% estava ruim, agora vai ser pior", diz.
- 29 de janeiro
O Sindicato das Empresas de Ônibus entra com ação judicial alegando “abusividade e ilegalidade” da greve dos rodoviários. O TRT aceita parcialmente o pedido e aumenta de R$ 50 mil para R$ 100 mil o valor da multa em caso de descumprimento.
- 30 de janeiro
Quase 150 ônibus voltam a circular em Porto Alegre, mas a frota é recolhida para as garagens após atos de vandalismo. Um acordo é assinado na segunda reunião de mediação no TRT: os rodoviários aceitam uma trégua de 12 dias na greve e prometem colocar 50% da frota nas ruas a partir desta sexta (31), além de levar para assembleia a proposta de retomar 100% da operação a partir de sábado (1º), enquanto o dissídio é negociado. O sindicato patronal oferece aumento de R$ 1 no vale-alimentação e suspensão temporária da cobrança de R$ 40 nos planos de saúde. Grupos de oposição à direção do sindicato dizem que não vão aceitar a proposta.
- 31 de janeiro
Apesar do acordo no TRT, a greve chega ao quinto dia sem nenhum ônibus nas ruas. A Justiça do Trabalho volta a declarar a ilegalidade da greve e a aplicar a multa de R$ 100 mil por dia de descumprimento. Em nova assembleia, os rodoviários decidem manter a greve geral.
- 1º de fevereiro
Mais ônibus que tentam sair para as ruas são depredados. A prefeitura anuncia a liberação para o transporte de passageiros em vans escolares para amenizar o impacto da greve.
- 2 de fevereiro
A prefeitura divulga as rotas das vans escolares, que já começam a circular pelas vias de Porto Alegre. O governador Tarso Genro diz que a Brigada Militar garantirá a segurança dos veículos de transporte alternativo, e Fortunati solicita uma nova reunião de mediação entre rodoviários e empresários para solucionar o impasse.
- 3 de fevereiro
Em nova reunião no TRT, as empresas oferecem reajuste salarial de 7,5%, aumento no valor do vale-refeição de R$ 16 para R$ 19 e redução no valor pago a título de co-participação no plano de saúde, de R$ 40 para R$ 10, a partir de março. Os rodoviários prometem levar a proposta para aprovação da categoria em nova assembleia.
- 4 de fevereiro
Em nova assembleia, os rodoviários rejeitam a proposta do sindicato patronal e mantêm a greve geral. O Seopa anuncia que vai descontar os dias parados dos trabalhadores e diz que estuda a possibilidade de fazer demissões por justa causa. Representantes das empresas não comparecem a uma nova tentativa de medição no TRT.
- 5 de fevereiro
A greve dos rodoviários de Porto Alegre completa 10 dias. Um novo ônibus que tentou sair da garagem é apedrejado, elevando para 46 o número de veículos danificados por atos de vandalismo desde o início da greve, segundo a prefeitura. Uma nova reunião de medição no TRT é marcada para a quinta-feira (6).
- 6 de fevereiro
Funcionários de empresas de ônibus da capital reclamam que não receberam valor integral dos salários referentes ao mês de janeiro. Seopa informou que ia descontar os dias paralisados, sendo a decisão “inegociável”. A quarta reunião de mediação no TRT acaba sem acordo e frota segue recolhida na cidade. Justiça nega pedido de passe livre por cinco dias na capital para retomar transporte público. TRT afirma que vai julgar processo sobre o dissídio dos rodoviários em 17 de fevereiro.
- 7 de fevereiro
Ônibus seguem sem circular em Porto Alegre. Prefeito José Fortunati confirma aumento da passagem para março. Metroplan e EPTC não chegam a acordo para que transporte metropolitano atenda usuários porto-alegrenses durante a greve dos rodoviários. Coletivos são novamente apedrejados na cidade. TRT nega pedido dos rodoviários, mantém ilegalidade da paralisação e proíbe piquetes nas saídas das garagens.
- 8 e 9 de fevereiro
Piquetes seguem impedindo a saída dos ônibus das garagens. Companhia Carris Porto-Alegrense (Carris) publica nota convocando os funcionários a retornarem ao trabalho nesta segunda-feira (10). Juíza do TRT cassa liminar que liberava uso de força policial, caso piquetes continuassem a impedir circulação dos coletivos.

fonte: G1

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